Apelo de José Mariano faz Câmara rever levantamento histórico da Igreja São Benedito
O Provedor da Irmandade de São Benedito, José Mariano (75), ocupou a Tribuna Popular, na reunião ordinária de hoje (20) para discorrer sobre a falta de apoio do pod (…)
O Provedor da Irmandade de São Benedito, José Mariano (75), ocupou a Tribuna Popular, na reunião ordinária de hoje (20) para discorrer sobre a falta de apoio do poder público no legado histórico que envolve o entorno da Igreja de São Benedito, região central da cidade, que afeta diretamente boa parte da comunidade negra piracicabana. O alerta de Mariano suscitou a participação dos veredores Walter Ferreira da Silva, o Pira (PPS), José Antonio Fernandes Paiva (PT), José Luiz Ribeiro (PSDB), o vice-presidente João Manoel dos Santos (PTB), e o presidente da Câmara, José Aparecido Longatto (PSDB), que ratificou a iniciativa da criação de comissão especifíca para reavaliar o levantamento histórico, realizado pela Câmara, por Fábio Bragança, que recorreu aos arquivos do professor e também historiador, Guilherme Vitti.
O vereador Pira esclareceu em aparte à fala de Mariano, que se inteirou sobre as pendências envolvendo a Igreja de São Benedito, junto ao Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, na gestão do ex-presidente Haldumond Nobre Ferraz. Segundo Pira, comentários da época do ex-prefeito Adilson Maluf, diziam que o Livro Tombo não existe mais. “Diz a história que em 1824, a Baroneza de Rezende doou o local aos negros. Agora é uma questão de justiça. Atualmente a comunidade religiosa não tem espaço para se manifestar”, disse.
Para o vereador Paiva, os detalhes históricos e as tradições da Igreja Católica pelo Brasil, sempre comportou a existência da salões paroquiais ao lado das igrejas.
José Mariano esclareceu que já foi a São Paulo e, irá para Campinas, buscar respaldo junto ao Tribunal Interdiocesano, para rever a pendência envolvendo a Igreja de São Benedito em Piracicaba. Mariano levantou questionamentos sobre o paradeiro do Livro Ata, que sumiu; o Livro Tombo, que também sumiu. O pedido é que o presidente da Câmara, José Longatto responda os questionamentos da Irmandade, uma vez que documentação neste sentido já foi enviada à Mesa Diretora.
José Mariano comentou sobre a proximidade do dia três de outubro, quando acontece evento nacional de irmandades de São Benedito, sendo que Piracicaba não consegue acolher as 29 representações nacionais que poderiam vir a Piracicaba se confraternizarem. Mariano também mencionou a condição de Piracicaba ser a terceira cidade no Estado de São Paulo com o maior número de escravos na época da escravidão e, que a Irmandade local é uma das primeiras do Brasil, seguida pela Bahia e Rio de Janeiro.
Também citou a condição dos negros não terem mais para onde fugir, a exemplo dos tempos antigos quando iam para a região do bairro Pau Queimado, Pau Preto e Pau D Alhinho. “Hoje não tem mais mato para se esconder”, disse, lembrando que o terreno foi doado pela Baroneza de Rezende, que inclusive, a filha da Baroneza doou a imagem de São Benedito, que fica no lugar mais alto da Igreja. “Liquidaram com a raça negra em Piracicaba”, finalizou.
O vereador Pira lembrou do costume antigo das pessoas serem enterradas no terreno das Igrejas, com o entendimento que o entorno da Igreja de São Benedito também possa ter abrigado corpos de escravos, servindo de cemitério. Pira também considerou que a Rua do Rosário era chamada de Rua da Nossa Senhora dos Homens Pretos.
Já o vereador José Luiz Ribeiro parabenizou a fala de José Mariano e, destacou que a Câmara de Piracicaba foi pioneira na criação de lei municipal instituindo como feriado o Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro, quando se reverencia Zumbi dos Palmares.
O vereador João Manoel ressaltou sua ligação com a luta de José Mariano e, considerou que como legislador não poderia ir contra a lei. Como forma de melhor dirimir as pendências sobre o caso, João Manoel sugeriu ao presidente Longatto, a criação de uma comissão específica na Câmara para reesaminar a questão.
O diretor do Departamento Legislativo, Sandro Alves, também se pronunciou, tendo cinco minutos para informar sobre os encaminhamentos que a Câmara adotou até hoje para tentar definir as pendências legais que envolvem a ocupação do entorno da Igreja de São Benedito. Sandro destacou a disposição da Câmara avaliar possíveis novas documentações que possam existir sobre o entorno da Igreja de São Benedito, visto que o Tribunal Interdiocesano de Campinas, onde Piracicaba está circunscrita será consultado a arbitrar sobre o caso.
Sandro Alves esclareceu que a Câmara tem registro histórico sobre o entorno da Igreja de São Benedito. Os documentos datam de 1822, até 1942 quando se reativou o legislativo. O material está disponibilizado para a população, na Bibilioteca Jurídica da Câmara. Sandro informa que com a aposentadoria de Guilherme Vitti, a Câmara contratou Fábio Monteiro. “Desde o começo da Câmara, quando Piracicaba foi elevada à condição de Vila, existem atas registrando a história da Igreja. “Tenho certeza que não falta documento algum. Livros Ata existem todos”, disse o servidor.
Sandro também reforçou que a presidência da Câmara não fará objeção de levantar os dados históricos. Falou de fatos pitorescos em 2003 ou 2004 e, que no local onde está o estacionamento da Câmara, funcionava uma oficina da Guarda Civil, sendo que na ocasião, o Advogado João Carlos Carcanholo questionou a Câmara sobre o entorno da Igreja de São Benedito. Segundo Sandro, a escritura está em nome da Câmara. Também disse que antigamente era regime parlamentarista, sendo que a Câmara exercia papel Executivo.
Sandro listou o prédio da prefeito e o antigo Fórm no entorno da Igreja. “Está tudo no processo”. Sobre novos documentos, Sandro entende que se José Mariano conseguir alguma coisa em Campinas, na Cúria, estará prestando grande coisa para o município. Disse que pediria pessoalmente para o presidente Longatto atender estas demandas.
Martim Vieira Mtb 21.939
Foto: Fabrice Desmonts Mtb 22.946
Fonte: Câmara Municipal de Piracicaba