Requerimento de Paiva pede explicações sobre censura a livro
Livro sobre o Golpe de 1964, que aborda questões locais, seria publicado pelo Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba
Na semana que antecedeu os 50 anos do Golpe Militar de 1964, uma notícia ganhou as redes sociais e mobilizou parte da sociedade piracicabana. A publicação do livro Piracicaba Nos Tempos da Ditadura, que receberia recursos do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba para ser editado, foi cancelada.
Como recebe recursos públicos, o IHGP deverá responder aos questionamentos de um requerimento de autoria do vereador José Antonio Fernandes Paiva (PT), aprovado ontem (31/03) pela Câmara de Vereadores. O requerimento de informações pede explicações sobre porque o IHGP recusou-se publicar o livro.
Paiva questiona o que pode haver de mais essencial para uma cidade do que conhecer sua própria história e o que pode dar ao cidadão maior grau de pertencimento à sua comunidade do que conhecê-la em detalhes?
Segundo o líder do Partido dos Trabalhadores, era isso que pretendia a publicação do livro “Piracicaba Nos Tempos da Ditadura”, que recontaria em detalhes o que a cidade viveu a partir de março de 1964, por ocasião do golpe militar.
Produzido por um grupo de pesquisadores, jornalistas e pessoas que se debruçaram sobre aquele período, a coletânea começou a ser produzida em agosto do ano passado, em parceria com o IHGP.
Em fevereiro, quando a publicação já se encontrava finalizada em termos gráficos e editoriais – e inclusive com o ISBN concedido ao próprio IHGP que o solicitara -, pronta para ser impressa, a entidade decidiu pela não publicação da obra. “A decisão de sua Diretoria Executiva foi comunicada à organizadora da obra, via e-mail, sem quaisquer justificativas”, relata Paiva.
Paiva afirma ainda que, passados 50 anos do golpe militar, quando o país se debruça na revisão do que ocorreu naquele período é ainda mais importante que o debate se estenda às cidades do interior como Piracicaba, onde histórias se acumulam e precisam ser sistematizadas, analisadas e melhor conhecidas.
“Piracicaba tem o direito de conhecer mais sobre aquilo que permanece, até hoje, pouco analisado daquele período na cidade: prisões, pressões a sindicalistas e professores, o convívio entre empresários e as forças repressivas, a vigilância constante inclusive sobre cidadãos insuspeitos, a denúncia anônima contra religiosos e docentes, a prática da tortura, perfis daqueles que ousaram reagir”, disse.
Para esclarecer as dúvidas sobre o episódio que classificou como “lamentável”, o parlamentar relacionou vários questionamentos ao IHGP. Porque o Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba decidiu pelo cancelamento da referida publicação? O IHGP possui algum conselho que aprova este tipo de patrocínio? Se sim, este conselho havia aprovado o projeto do livro? O que será feito com os recursos que até então haviam sido destinados à publicação desta obra?
Regimentalmente, após aprovação em plenário e recebimento oficial do requerimento, o IHGP terá 15 dias para responder à Câmara de Vereadores, e não somente ao vereador Paiva, e também à sociedade, as razões que levaram à recusa.
Fonte: Câmara Municipal de Piracicaba