O que é “Columna Maldita”?
– Onde você leu isso, Gabriel ?
– Aqui no capacete que está exposto.
O diálogo se deu na semana passada, durante visita em que levei meu filho ao Museu Prudente de Moraes. Na primeira sala, uma exposição sobre a Revolução Constitucionalista de 1932. A resposta é que a tal “Columna” era composta pelos mercenários piracicabanos que atuaram na epopeia paulista. O termo mercenário foi atribuído pela imprensa na época, consolidado por tropas federais que lutaram contra São Paulo e…. negado pelos piracicabanos.
“Não somos nada disso que estão falando contra nós. Somos piracicabanos de coração”. Trecho de carta escrita há 91 anos por um piracicabano desconhecido durante a Revolução de 1932, que ocorreu de 9 de julho a 2 de outubro daquele ano.
Os piracicabanos, cerca de 600 voluntários que se alistaram em prol da uma nova Constituinte, eram tachados de mercenários. E, note, não apenas pelas forças opositoras – tropas federais comandadas pelo governo Getúlio Vargas, mas como também por outros batalhões e regimentos com os quais lutaram em conjunto.
Piracicabanos que formaram o Regimento dos Funcionários Públicos ou o Batalhão Piracicabano foram descritos como implacáveis e sanguinários diante dos opositores.
Estavam lá para fazer medo e matar. A história conta que 934 pessoas foram mortas durante o levante, mas não registra pelos menos para nós, paulistas – quantos perderama vida lutando contra São Paulo. Há citações históricas de decapitações no Mato Grosso ou ao exílio no Rio Grande do Sul de simpatizantes da causa paulista. Muitos, sem pormenores.
O Batalhão Piracicabano teve fama semelhante à tropas federais do nordeste, as quais combateram anos antes jagunços como Lampião e possuíam estratégia e milícias sanguinárias nas regiões áridas do país. Nosso Batalhão foi incorporado à Coluna Boaventura, liderada pelo capitão do Exército, vindo do Rio de Janeiro antes do início da Revolução. Nos e…. negado pelos piracicabanos.
“Não somos nada disso que estão falando contra nós. Somos piracicabanos de coração”. Trecho de carta escrita há 91 anos por um piracicabano desconhecido durante a Revolução de 1932, que ocorreu de 9 de julho a 2 de outubro daquele ano.
Os piracicabanos, cerca de 600 voluntários que se alistaram em prol da uma nova Constituinte, eram tachados de mercenários. E, note, não apenas pelas forças opositoras – tropas federais comanda das pelo governo Getúlio Vargas, mas como também por outros batalhões e regimentos com os quais lutaram em conjunto.
Piracicabanos que formaram o Regimento dos Funcionários Públicos ou o Batalhão Piracicabano foram descritos como implacáveis e sanguinários diante dos opositores.
Estavam lá para fazer medo e matar. A história conta que 934 pessoas foram mortas durante o levante, mas não registra – pelos menos para nós, paulistas – quantos perderama vida lutando contra São Paulo. Há citações históricas de decapitações no Mato Grosso ou ao exílio no Rio Grande do Sul de simpatizantes da causa paulista. Muitos, sem pormenores.
O Batalhão Piracicabano teve fama semelhante à tropas federais do nordeste, as quais combateram anos antes jagunços como Lampião e possuíam estratégia e milícias sanguinárias nas regiões áridas do país. Nosso Batalhão foi incorporado à Coluna Boaventura, liderada pelo capitão do Exército, vindo do Rio de Janeiro antes do início da Revolução. Nossos conterrâneos nos representaram no Exército Constitucionalista setores leste e norte (cujo QG sediava-se em Cruzeiro) e no 4º Batalhão de Caçadores da Reserva.
“Piracicaba enviou para a frente de combate dois batalhões de voluntários, tendo a tropa piracicabana se destacado nos campos de batalha.
É só lembrar a Coluna Maldita que, no setor norte, ficou famosa por levar de vencida as piores missões que lhe eram destinadas”, disse Alcides Aldrovandi no livro “A Vila e seus Vilões – A história de um bairro”. Por aí nota-se que não foram à guerra de 32 apenas para “bater ponto”.
“… estava o I Batalhão Piracicabano, aliás, reduzido quase à metade então chamado Coluna Boaventura, num sopé da Serra da Bocaina, aguardando ordem para tomar nova posição,e eu conversar com o capitão mais o tenente-médico Dr. Lula (Luiz Gonzaga de Campos Toledo) e alguns voluntários esperançados, quando nos apareceu, montado a cavalo, um sargento apressadíssimo, com ordem verbal de retirada imediata. Estampou-se no rosto de Boaventura uma raiva trágica, que conteve a custo, e respondeu seco: “minha gente não se retira sem ordem escrita”. A bravura do comandante dos piracicabanos é descrita por Jacob Diehl Neto em seu diário no dia 15 de agosto de 1932, publicado no Jornal de Piracicaba em 1935.
A tal “Columna” Maldita não era suscetível à sensibilidade. “Chovia e fazia frio. Os cariocas pediram para cessar fogo para esquentar os pés.
Uns respeitaram, outra turma desceria o monte e escalaria o fronteiro, metralhando e fuzilando o adversário sem cessar”, conta o Jornal de Piracicaba de 11 de setembro de 1932.
“Aos piracicabanos, chamam os inimigos –a Coluna Maldita – injustamente, porém. Os piracicabanos combatem sem ódio e não fuzilam prisioneiros como dizem. Não se arreceiam, porém, e resistem com entusiasmo invejável. São bondosos até. Os ‘cariocas’ gritavam que os deixassem em paz, para acenderem fogo e aquentarem os pés”. Carta de Antonio Moraes Sampaio, de Silveiras, 25 de agosto de 1932.
Outro piracicabano, Alirio Lelis Garcia, em carta publicada no jornal O Momento, de 7 de setembro de 1932, mostra-se indignado: “Nosso Batalhão recebeu do inimigo do epitecto de Coluna Maldita. E porque isto ? É porque este punhado de bravos Piracicabanos, que deixaram tudo na sua linda e hospitaleira terra, têm mantido com galhardia as posições que lhes foram confiadas”.
O certo é que anos após o término da Revolução,o silêncio tomou corpo e a “Columna” Maldita tomou rumo ao esquecimento.
Cabe dedicar umas horas da sua vida e visita a exposição do Prudente de Moraes e conhecer um pouco daqueles que deram suas vidas para que tivéssemos direito a democracia, tal qual praticamos na atualidade.
Piracicaba, 23/07/2023
Edson Rontani Júnior
É jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba