Codepac aprova tombamento do barraco do frei Sigrist, no Jardim Glória
Reconhecimento do local como patrimônio histórico é reivindicado há 18 anos na Câmara, pela ex-vereadora Márcia Pacheco e pela vereadora Nancy Thame.
O Codepac (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba) aprovou o tombamento do barraco do frei Sigrist, em reunião na tarde desta sexta-feira (7). O imóvel foi a residência do religioso por 13 anos, período em que atuou em prol do desenvolvimento social da comunidade do Jardim Glória. O processo para o reconhecimento do valor histórico e cultural e a reivindicação para a regularização fundiária do núcleo habitacional surgiram a partir de reivindicações na Câmara, nos mandatos da ex-vereadora Márcia Pacheco e da vereadora Nancy Thame (PV).
Nancy conheceu frei Sigrist por meio de seu marido, o ex-deputado e ex-prefeito de Piracicaba Antonio Carlos de Mendes Thame. “Era preciso reconhecer a importância histórica do barraco, que representa a presença do frei Sigrist na memória piracicabana, pois foi o local onde ele viveu e exerceu com grande humildade e bondade o seu sacerdócio, sempre com um trabalho dedicado aos mais necessitados”, avalia a parlamentar.
Ao assumir mandato na Câmara, Nancy apresentou vários requerimentos para cobrar do Executivo o tombamento e a regularização fundiária do núcleo. “Desde janeiro de 2018, quando estivemos com Claudinei Pollesel, que solicitou ações para a continuidade de projetos em preservação da memória do frei, colocamos o gabinete à disposição para cooperar naquilo que fosse preciso para mantermos sua memória”, diz a vereadora.
Em outubro de 2018, a parlamentar promoveu uma reunião solene para lembrar os 20 anos da morte de frei Sigrist. Desde o início de seu mandato, ela também participou de uma série de ações na comunidade, como a inauguração da galeria de fotos e do projeto paisagístico no entorno da área. “Sinto-me muito feliz por contribuir, como parlamentar, para o avanço desse processo de tombamento”, completa Nancy.
TOMBAMENTO – A aprovação do tombamento do barraco de frei Sigrist foi unânime, com os conselheiros participando remotamente da reunião, transmitida pela internet. A votação foi antecedida por outra, para a reabertura do processo, já que ele ficou arquivado à espera da regularização fundiária realizada pela Emdhap (Empresa Municipal de Desenvolvimento Habitacional de Piracicaba).
A Câmara de Vereadores de Piracicaba foi representada na reunião pelo diretor do Departamento de Assuntos Jurídicos, Filipe Vieira, que destacou o “quórum bastante significativo” para a votação e a importância da participação do Legislativo, por meio das vereadoras, para viabilizar o pedido da comunidade.
“A Câmara foi fundamental em demonstrar o interesse da população ali da região para que o tombamento se concretizasse. A comunidade está interessada em proteger esse patrimônio, e isso é bem relevante. A Câmara participando e pleiteando junto com a população resume bem todo o trabalho que o Legislativo teve nesse processo”, analisou o advogado.
Com a decisão pelo tombamento, o Codepac deve agora finalizar a tramitação interna do processo e encaminhá-lo para a Procuradoria-Geral do Município fazer a publicação no Diário Oficial. O conselho também informou, na reunião, que abrirá outros dois processos de tombamento: o dos objetos de frei Sigrist e o de seu patrimônio imaterial.
HISTÓRICO – O pedido de abertura do processo de tombamento do barraco de frei Sigrist no Codepac aconteceu em 2002, pela ex-vereadora Márcia Pacheco. Em 2010, a Emdhap fez o levantamento fotográfico interno e externo para a recomposição do barraco, já que a área estava degradada e com cupim.
Para que o tombamento se concretizasse, foi necessária a regularização do Jardim Glória. “Faltava a regularização fundiária, que felizmente aconteceu em 4 de fevereiro de 2020, por meio da lei 404/2019. Assim, todos os imóveis receberam escritura e o barraco foi regularizado, tornando-se patrimônio do município e apto para ser tombado como patrimônio histórico”, contextualiza Claudinei Pollesel, historiador do IHGP (Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba).
Segundo Pollesel, em 2018 surgiu o grupo Amigos de Frei Sigrist, que organizou eventos no próprio barraco para lembrar os 20 da morte do religioso. Houve a execução de serviços de limpeza, remoção de entulhos, projeto paisagístico, religamento de água e luz, além de organização e catalogação de documentos e texto de autoria do frei.
ATUAÇÃO – Natural de Indaiatuba (SP), Francisco Erasmo Sigrist ingressou no Seminário Seráfico São Fidélis, aos 12 anos incompletos. Ele permaneceu 24 anos fora do seminário e, aos 42 anos, em 1975, retornou para a vida religiosa, com os frades capuchinhos. Morou por quatro anos na Alemanha e atuou ainda em São Carlos. Antes de se mudar oficialmente para o Jardim Glória, desenvolveu por um ano o trabalho como mestre de noviços e vigário da Igreja dos Frades, em Piracicaba.
Segundo Claudinei Pollesel, liderados pelo frei Sigrist, os franciscanos promoveram várias transformações sociais na comunidade do Jardim Glória, entre elas a criação da associação de moradores e a construção de uma capela e de um centro comunitário: “organiza a distribuição de sopa diária, arrecada fundos e inicia uma grande transformação na favela, organiza os trabalhos em mutirão, fabrica os blocos de cimento com a betoneira doada pela Diocese de Piracicaba, cobra ações da Prefeitura e assim põe seu sonho em prática: construir 120 casas de alvenaria no lugar dos barracos”.
Além de frei Sigrist, os responsáveis pela criação da Fraternidade Nossa Senhora da Glória foram os seminaristas Carlos Silva e Toninho. Também viveram na comunidade do Jardim Glória (de forma alternada) os freis e estudantes Cassio Padovani, frei Pedro Cesar Silvério, Francisco de Assis Pereira de Campos (frei Tito), Antônio Carlos Mendes (frei Tonhão), José Gomes de Souza Junior (frei Portuga), João de Deus, Nicola Gianinnazzi, frei José Orlando Longarez, Nelo e Nilson Cajuru.
Frei Sigrist morou no barraco a partir de 1985. Em 18 de outubro de 1998, aos 66 anos, foi encontrado morto na cozinha, vítima de um infarto fulminante. Os franciscanos deixaram a comunidade em 2000.
Fonte: Câmara Municipal de Piracicaba