Ouvir rádio na segunda metade dos anos 1970 necessitava ter um rádio com a frequência A.M. (amplitude modulada), ondas curtas ou ondas médias. Piracicaba possuía, então, três emissoras, sendo a Rádio Difusora, a Rádio A Voz Agrícola de Piracicaba (depois Alvorada) e Rádio Educadora. Surgem nomes como Ary Pedroso, Djansen de Lima, Atinilo José, Roberto Moraes, Edirley Rodrigues, entre tantos outros.
A F.M. (frequência modulada) passou a frequentar o dial dos receptores por volta de 1976. Na época, a única emissora que poderia ser sintonizada na cidade era a Andorinha F.M., da cidade de Campinas. Em seguida, surgiu a Difusora F.M. (hoje 102 FM). Isso ocorre no ano de 1977. Sua programação era estritamente musical, naquilo que se qualificou outrora como “música de som ambiente”, sem intervenção de locutor. Era um estilo perpetuado pela “Antena 1”, adotado na década seguinte por emissoras como a Estância F.M. (de Águas de São Pedro) e a Rádio Municipal F.M. (da Prefeitura de Piracicaba). Assemelha-se ao que hoje ouvimos através da Eldorado FM ou Antena 1. Eram músicas por 10 ou 15 minutos, intercaladas pela hora certa (gravada) e pelos comerciais.
Surge um horizonte baseado em emissoras norte-americanas. A Difusora F.M. importa equipamentos dos Estados Unidos, muitos da marca Harris, e torna-se, mais uma vez, referência no interior paulista. Arildo José Pelegrinoti coordenou por muito tempo a área técnica da emissora. Em 1982 surge a Alvorada F.M. com programação mais avançada, intercalando informação, prestação de serviços e música. A programação era preparada pela Rede LC de Rádio, com consagrados locutores (muitos da Rádio Bandeirantes, de São Paulo). A programação era enviada em formato “fita de rolo”, reproduzida sua narração nos clássicos tapes Akai e músicas tocadas através dos LPs (long-play). A programação local possuía um programa apresentado das 15 às 16 horas chamado de “Lance Legal” em dupla por Duarte Yamanaka e Vanderlei Albuquerque.
Tínhamos ainda a Rádio Municipal de Amparo, a Estereosom de Limeira e a Rádio Cidade de Rio Claro. Ainda nos anos 80 surgem a Rádio Municipal F.M. coordenada, na gestão do prefeito Adilson Benedito Maluf, por José Jamil Neto. Este incorpora o estilo “música ambiente”, padrão que estava próximo ao fim, à emissora. Em seguida, a família Moura Andrade, monta em Águas de São Pedro a Rádio Estância F.M. que por um tempo teve a coordenação de Cunha Neto. Este, veio da Rádio Bandeirantes de São Paulo para a Rádio Difusora e em seguida seguiu ao município termal para coordenar a nova programação.
Os anos 1990 foram uma nova época em que as emissoras se tornaram franqueadas de outras emissoras nacionais como Antena 1, Transamérica e Jovem Pan (1994). Surge a segmentação, provocada até pela transformação dos gêneros da música. A virada dos anos 80 para os 90 promove o surgimento da música country e do pagode. Surge também a explosão de concessões para novas emissoras no país tornando a comunicação radiofônica uma forte indústria mercantil. Além disso, a estabilidade financeira e o crescimento de doutrinas provocam uma enxurrada de emissoras clandestinas, as famosas “rádios piratas”, anos mais tarde denominadas de rádios comunitárias.
A realidade hoje é outra. Depois de 100 anos da primeira transmissão radiofônica no país, emissoras buscam uma nova identidade. Os aparelhos atuais que reproduzem rádio sequer trazem a sintonia A.M. Ondas curtas e ondas médias, nem pensar ! Celulares reproduzem MP3 e F.M, ou aplicativos s sistemas de streaming. Ouvir música deixou de ser algo tão desejado como nos anos 70 e 80, quando lotávamos a Som 6 da Galeria Brasil ou as lojas da Musical (que chegaram a ter cinco ou seis filiais em nossa cidade!). Ouvir música nesta época, era ficar ligado o dia todo esperando a música. Ligar na rádio e pedir tal música ao estilo “fulana de tal pede esta música e envia com muitos beijos para sicrano”….
A reprodução torna-se possível apenas com o surgimento da fita magnética (rolo, tape ou cassete). Hoje, digita-se no Google “download MP3 tal música” e ela é baixada instantaneamente, quebrando barreiras do tempo e geográficas. No momento em que ela é lançada na Europa ou Estados Unidos, é acessada no seu computador. Antes demorava meses para ser importada (de avião), prensada em LP e distribuída às rádios e lojas.
Se na segunda metade dos anos 1970 tínhamos apenas a Andorinha F.M. e Difusora F.M. para dividir nosso dial na região, hoje temos infinitas emissoras que lotam a frequência. Uma em cima da outra. Legais ou ilegais. O dial ficou pequeno.
Cinema, literatura, televisão e outras áreas de entretenimento enfrentam a crise de identidade. O mesmo ocorre na radiofonia. A fuga do lugar comum acontece em todo setor que vive do comércio como captação monetária. E não poderia ser diferente. Afinal isso é mercantilismo. Criar o “ovo de Colombo” e destacar-se como algo genuíno, aí sim o desafio é maior.
Edson Rontani Júnior – jornalista e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba